domingo, 31 de julho de 2011

Lince O que tem nesta venda?

 Lince
Oi, oi,

Como prometido, eis o post do Lince “O que tem nesta venda?”. Esse é um post continuação do anterior, portanto, quem não o leu, é bom ler, tá? Gostaria principalmente de relembrar que os jogos e materiais propostos aqui a partir de livros de literatura são possibilidades de exploração de aspectos trazidos por eles – no caso deste, as rimas – que se propõem a ampliar a leitura dos livros e não sobressair-se a eles, ou empobrecê-los de sua natureza literária. Essa é uma compreensão fundamental dessa proposta metodológica. Os jogos favorecem durar na poesia, apropriar-se dela, expandir seus elementos, voltar a ela...

Mas vamos ao Lince.



Há duas possibilidades de organizar o Lince. Ou fazemos um tabuleiro com as pequenas figuras correspondentes às rimas coladas nele ou apresentamos essas pequenas figuras soltas, para que possam mudar de lugar a cada partida. Com as figuras coladas não há possibilidade de variação da posição das figuras de jogo para jogo, mas é um formato interessante, bonito, mais fácil de confeccionar e de manter. Com as cartelas separadas, não fixas no tabuleiro, permite-se que a cada partida estas sejam embaralhadas e não se memorize as posições onde se encontram. Entretanto, as cartelinhas dão mais trabalho de confeccionar e perdem com mais facilidade.


Kit Lince com as duas formas de jogo


Cartelinhas soltas
Com as figuras soltas, o jogo contém várias pequenas cartelas, com as figuras correspondentes às rimas do texto “O que tem nesta venda?” (fiz as minhas redondas, bem chatinhas de recortar, mas forma um todo mais interessante que quadradinhas). Essas cartelinhas devem ser embaralhadas, espalhadas, mas não muito separadas. O conjunto delas constitui o tabuleiro. 

Seja com figuras fixas ou soltas, há duas possibilidades de jogo: Lince Fonológico ou Lince de Reconhecimento de palavras. Antes de jogar, no entanto, é preciso que os jogadores se familiarizem com as figuras do jogo, como saber o que as figuras representam, como compasso, cadarço, caqui, torrada (e não pão), bolacha (e não biscoito), ricota (e não queijo), sabonete (e não sabão), chá mate (e não chá ou xícara, para a figura da xícara de chá) e assim por diante. Para ajudar nisso podem ser usadas as cartas do Bingo ou do Baralho fonológico “O que tem nessa venda?”, que são maiores, notando, no entanto, que há no Lince, por vezes figuras diferentes, como dois tipos de bola, dois tipos de torta etc. Essa exploração é fundamental para que as chances de encontrar as figuras com rapidez sejam maiores. Retomar o livro também é importante nessa familiarização com as palavras presentes no jogo. Talvez seja interessante também jogar esses outros jogos, como o Bingo e o Baralho Fonológico, antes do Lince, para ajudar nessa familiarização (serão mostrados em breve!).

Lince Fonológico:
Joga-se entre dois a quatro jogadores, e mais um adulto ou criança que lê com autonomia, para sortear e ler as cartas indicando as rimas. Nesse formato, o jogo é de reflexão fonológica sobre a rima, unidade que está presente no livro fonte desse material. 

No tabuleiro com as peças soltas, ao ouvirem a indicação lida sobre a rima (ex. “rima com anel”), todos os jogadores devem procurar as figuras correspondentes àquela rima no tabuleiro (todos buscam as figuras do “papel” e do “pastel” no tabuleiro, que são figuras do livro que rimam com anel). 

Como tem mais de uma cartela com a mesma figura (tem duas coisas de cada) e figuras com rimas iguais (ex. papel e pastel), os jogadores podem encontrar várias cartelas - todas ou algumas delas - inclusive diferentes jogadores. Cada um guarda para si as cartelas que encontrar, mas só vale pegá-las naquela rodada. Depois que outra carta de indicação for lida, não se pode mais pegar as da carta anterior. Ganha quem tiver mais fichas ao final do jogo. 


Com as figuras coladas no tabuleiro, é preciso organizar um modo de registrar a contagem das figuras encontradas, por isso, nesse caso, o jogo com as cartelas soltas termina sendo mais simples em termos da contagem dos pontos.


Entretanto, ter marcadores como grãos de feijão ou botões, ou algo do gênero, resolve, ao se jogar com o tabuleiro fixo. Cada um que achar uma das cartelas, nesse caso, pega para si um marcador ou registra. Ganha quem tiver mais marcadores ou marcas ao final do jogo, já que a quantidade deles representa a quantidade de figuras que cada um encontrou. O Lince fonológico funciona de modo mais simples com as figuras soltas, não coladas, por isso mesmo. Mas nada impede de jogar registrando os pontos.


Lince de Reconhecimento das palavras:

O Lince aqui não é mais de consciência fonológica, mas de reconhecimento de palavras, ou seja, de leitura. Usam-se, em vez das cartelas com indicação de rimas, fichas com palavras escritas: as palavras correspondentes às figuras do jogo (os pares de rimas referidos no livro).

Nesse caso, há dois modos de jogar. No primeiro modo, um dos jogadores retira uma das cartelas com as palavras, sem ver, e mostra a todos. 



O primeiro que a ler e encontrar uma figura correspondente no tabuleiro do Lince, ganha para si a cartela (ou ganha para si a ficha com a palavra, caso o tabuleiro seja com as figuras coladas). Pelo fato de a ficha de palavras funcionar como controle de quem encontrou uma figura primeiro, o jogo do Lince de Reconhecimento de palavras serve bem para ser jogado com as figuras fixas no tabuleiro. Melhor até que com as cartelas soltas.

No segundo modo de jogar, cada jogador recebe (retira de um saquinho ou monte, sem ver) duas fichas com as palavras escritas correspondentes às figuras do tabuleiro. Depois de um sinal, devem tentar localizá-las rapidamente e pegar a cartela com a figura encontrada para si (ou pegar a palavra para si, caso as figuras sejam coladas no tabuleiro e devolver a que não encontrar). Quando o primeiro jogador localizar uma figura correspondente a cada uma de suas duas fichas de palavras (tem mais que uma figura de cada rima, mas basta encontrar uma), a rodada, então, deve parar, e os outros não mais podem procurar as figuras, devolvendo as palavras ao monte (ou saquinho), e embaralhando-as. 

Cada jogador fica com as fichas das palavras (ou com as cartelas com as figuras) que conseguiu localizar e, então, retira duas novas fichas de palavras. E assim por diante... 

Quando não mais houver palavras suficientes para distribuir duas para todos os jogadores, distribui-se uma. Quando não mais tiver para todos, termina-se o jogo. Ganha quem, no final da partida, estiver com mais cartelas ou fichas de palavras. Pelo fato de implicar o domínio de leitura das crianças, é preciso pensar nos agrupamentos para jogar, formando grupos com domínio semelhante de leitura, para uns não estarem sempre em desvantagem.

Observação: o número de palavras entregues pode variar a depender do domínio de leitura do grupo e do número de figuras do tabuleiro, pode ser três, em vez de duas, se houverem muitas, como no caso da turma ter feito uma atividade de produção de texto, ampliando os produtos da venda. Essas rimas advindas de atividades de produção textual e ampliação do texto poético podem ser incluídas no jogo, aumentando-se as figuras do tabuleiro e as fichas. Essa atividade de produção (indicada no post anterior) é bem interessante, não só para ampliar o trabalho com a sonoridade, com as rimas, mas para aumentar o desafio no jogo do Lince, seja o fonológico ou o de reconhecimento de palavras, já que o universo de figuras aumenta exigindo mais atenção e acuidade.

É isso, gente! Essa é a minha proposta de jogo a partir desse livro de Elias José. Como ele tem muitas rimas, dá margem também a outros jogos, que postarei em breve: o Bingo e o Baralho “O que tem nesta venda?” são uns deles. Assim, vocês podem ter algumas possibilidades de jogo para escolher as que lhes agradam mais ou para variar. Fica também a dica de estrutura de jogo, que pode ser adaptados a outros textos rimados. 

Aguardem!
Lica

terça-feira, 26 de julho de 2011

O que tem nessa venda?

Lince
O que tem nesta venda?
 .
Oi, gente,
Vou mostrar para vocês em breve um jogo que fiz a partir do livro “O que tem nesta venda?”, de Elias José. É da Editora Paulus, Coleção Ler Brincando (antigamente coleção Patati Patatá), e tem ilustrações de Rogério Coelho. Mas antes, vamos falar um pouco do livro e de suas possíveis explorações. Trata-se de um texto poético que propõe brincar com as rimas, com as palavras. Segue o texto abaixo, só para a compreensão do material proposto. Mas indico a leitura com as crianças no próprio livro, mostrando as ilustrações. Além de ser importante o contato com o próprio livro, é legal depois ele poder ser folheado, “relido”, retomado.
 .
O que tem nesta venda?
Elias José

Fui à venda comprar ricota.
Como não tinha, comprei torta.

Fui à venda comprar rabanete.
Como não tinha, comprei sabonete.

Fui à venda comprar leque.
Como não tinha, comprei pé-de-moleque.

Fui à venda comprar chá-mate.
Como não tinha, comprei tomate.

Fui à venda comprar mola.
Como não tinha, comprei cola.

Fui à venda comprar disquete.
Como não tinha, comprei chiclete.

Fui à venda comprar uma bola.
Como não tinha, comprei carambola.

Fui à venda comprar papel.
Como não tinha, comprei pastel.

Fui à venda comprar alho.
Como não tinha, comprei baralho.

Fui à venda comprar repolho.
Como não tinha, comprei molho.

Fui à venda comprar sapato.
Como não tinha, comprei pato.

Fui à venda comprar borracha.
Como não tinha, comprei bolacha.

Fui à venda comprar marmelada.
Como não tinha, comprei torrada.

Fui à venda comprar compasso.
Como não tinha, comprei cadarço.

Fui à venda comprar mala.
Como não tinha, comprei bala.

Fui à venda comprar pandeiro.
Como não tinha, guardei o dinheiro.

Fui à venda comprar apontador.
Como não tinha, comprei grampeador.

Fui à venda comprar caqui.
Como tinha, comprei e comi.

Fui à venda comprar amendoim.
Já está na hora de pôr um fim.

Que a rima não o prenda
Ao falar das compras na venda.
.
O Lince, por sua vez, é um jogo conhecido, da Grow, cujo tabuleiro tem um monte de figuras pequenas espalhadas, que devem ser encontradas pelos jogadores, no caso do jogo original, a partir de pequenas fichas sorteadas, com as mesmas figuras.  Há algumas adaptações no mercado, mas todos mais ou menos nessa mesma linha. 

Originalmente, é um jogo de acuidade e percepção visual, atenção e agilidade. Entretanto, aqui, no contexto da alfabetização, ele foi adaptado para favorecer, além desses desafios, a reflexão fonológica e o reconhecimento de palavras (leitura). 

Entretanto, antes de jogar o jogo do Lince “O que tem nesta venda”, é preciso ter lido o livro, brincado com ele e, por isso, nesse primeiro post vou dar algumas sugestões de exploração do livro e, em seguida, vou fazer o post sobre o jogo Lince “O que tem nesta venda”? com fotos do jogo e a apresentação de suas formas de jogar, certo?

Sugerimos, então, após apresentar o livro, fazer uma primeira lida com boa entonação, levando as crianças a perceberem as sonoridades, e depois uma lida parando na segunda rima, para os alunos completarem oralmente, com a rima que o livro propõe, ou com outras, como palhaço, braço, abraço, para rimar com compasso e cadarço. Assim vão surgindo novas rimas...

Brincar de falar outras rimas, além das do livro é bem interessante, pois, em si, já é uma atividade de reflexão fonológica sobre rimas, como a brincadeira de “lá vai a barca carregadinha de ______ (feijão): agrião, avião, caminhão, sabão, melão, mamão, pão...”. Pode-se fazer isso apenas oralmente e, depois, dependendo do nível do grupo, listar essas palavras sugeridas por escrito, para fazer atividades diversas de reconhecimento de palavras, como reconhecer uma palavra indicada entre todas, agrupar as palavras que rimam, analisar semelhanças e diferenças, dentre outras propostas. 

A rima é uma unidade sonora à qual as crianças são muito sensíveis, desde pequenas. Nessas atividades a criança precisa prestar uma atenção mais deliberada às rimas, constituindo-se em boas atividades de consciência fonológica. A consciência fonológica pode incidir sobre diferentes unidades, rimas, palavras, partes de palavras, sílabas, unidades inter e intrasilábicas e fonemas, quando é então chamada de consciência fonêmica. A rima é a forma mais elementar de consciência fonológica, mas muito interessante para favorecer a familiaridade com a reflexão sobre os sons da língua e, posteriormente, suas representações por escrito. Além disso a rima é matéria da poesia e da linguagem em geral.

A reflexão fonológica favorece a apropriação da leitura na medida em que o nosso sistema de escrita é de base fonológica e as descobertas das sonoridades podem ajudar, em outros contextos, as associações entre sons da língua e os signos da escrita. Através de atividades com poemas, trava-línguas e jogos fonológicos, as crianças vão sendo convidadas a ampliarem suas possibilidades de reflexão fonológica ludicamente, desde rimas a fonemas. 

Quanto ao livro de Elias José, sugiro também a ampliação do texto, oralmente de início, com propostas de outros produtos para a venda. O texto permite essa criação livre, apoiada na estrutura repetitiva dos versos. Dependendo do grupo, pode-se propor depois também a produção escrita (coletiva, com o professor escrevendo no quadro ou individual e em duplas). Assim, poderíamos ter o professor iniciando: “Fui à venda comprar feijão. Como não tinha, comprei _______”. (os alunos completam oralmente com algo que rime com feijão: /ão/). O professor pode listar para si mesmo uma série de rimas que não aparecem no texto para sugerir ao grupo. Por exemplo: /igo/: trigo, umbigo, amigo...; /orte/: sorte, morte, corte, serrote...; /ia/: melancia, pia, alegria; /ento/: cimento, vento, assento, coentro (as rimas podem ser perfeitas ou não, vale também as rimas toantes, em que só se repetem os sons das vogais, não das consoantes, como em “ricota” e “torta”, no livro).

Pode propor também os próprios alunos sugerirem ambas as palavras: “Fui à venda comprar _______. Como não tinha, comprei _______”. Não importa se o “produto” for imaterial, como amor, morte, saúde... Afinal, é poesia, né? Nesse caso, para constarem no Lince, esses produtos têm que ser representados por algum símbolo, combinado no grupo – o que em si é uma boa atividade – como, por exemplo, usar um coração para representar a palavra amor, uma cruz para a morte, um sorriso para a alegria...

A partir das rimas surgidas nessas atividades de produção textual, oral e/ou escrita, pode-se montar outro tabuleiro de Lince – além do original, só com as rimas do livro –, mais amplo, com mais figuras, mais cartas de indicação e mais fichas de palavras, tornando o desafio ainda maior. Desse modo, o texto lúdico-poético do livro, as atividades propostas e os jogos de alfabetização articulam-se ainda mais, ampliando a leitura do livro, sua apreciação, sua fruição estética e literária, o jogo das sonoridades, ao mesmo tempo em que se trabalha a reflexão sobre aspectos do sistema de escrita alfabética. Oralidade, alfabetização, letramento literário... tudo articulado. Não é esse o caminho metodológico que queremos?

É isso, gente!
Aguardem o post do Lince, o jogo ficou bem legal!
Lica


P.S. Como já escrevi os outros posts sobre materiais com esse livro, eis aqui o Lince e aqui outros joguinhos

P.S. Gente, olhem o livrinho bacana que Ana fez com sua turma, a partir do livro de Elias José e com os nomes das crianças: http://www.slideshare.net/AnaLuciaAntunes/livro-o-que-tem-na-venda-do-1-ano

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Mais Adivinhas

Adivinhas Embaralhadas


Esse é um material de que gosto muito. Trata-se de um kit estruturado de adivinhas com suas respectivas respostas apresentadas em letras móveis embaralhadas. Coloco as letras que compõem cada resposta dentro de um envelopinho com a pergunta colada nele. Abrindo os envelopes, surgem as letras que formam as respostas.

Gosto de usar esse material em minhas oficinas, pedindo para que cada um leia sua adivinha e tente responder. Quem conseguir, abre o envelope para confirmar e quem não souber responder, faz o mesmo e tenta descobrir a resposta a partir das letras que estavam dentro do envelope. Esse é um jeito legal de brincar com os alunos que já sabem ler e escrever com autonomia.
Trata-se de uma atividade de compor palavras, de escrita. Saber a resposta das adivinhas oralmente é necessário em muitos casos, mas para quem tem bom domínio de leitura de palavras, as letras podem ser dadas sem que saibam a resposta de antemão, pois a partir delas, podem tentar visualizar possíveis palavras considerando a pergunta da adivinha.
Entretanto, para os que não têm ainda o domínio da leitura e escrita convencional, é preciso que alguém leia as adivinhas, e é fundamental que os alunos saibam a resposta oralmente de antemão. Assim, vão saber que palavra têm que montar com as letras disponíveis no envelope.

Desse modo, para os alunos que apresentam escritas alfabéticas ou silábico-alfabéticas mais avançadas, os envelopes com as letras móveis podem ser dados sem que saibam as respostas. O desafio, além da leitura, é encontrar a resposta de acordo com as letras que são fornecidas, e montar as palavras sem deixar sobrar nem faltar nenhuma letra. A ortografia das palavras é a ênfase aí e, para os que estão escrevendo sob uma hipótese silábico-alfabética é muito interessante como desafio ter que usar todas as letras. 

Os alunos com escritas silábico-alfabéticas mais hesitantes, ainda com muita presença de segmentos escritos silabicamente, podem ser informados anteriormente da resposta das adivinhas propostas. Desse modo, podem apoiar-se no oral para encontrar as letras que formam as repostas, montando a palavra.

O desafio aí é ajustar o oral ao escrito e usar todas as letras, sem deixar faltar ou sobrar nenhuma. As intervenções do professor podem, nessas situações, ser fundamentais para provocar avanços na montagem da palavra.

Alunos que têm hipóteses silábicas podem, sabendo as respostas de antemão, montar, de preferência em duplas, as palavras segundo sua hipótese. Nesse caso, o desafio é buscarem as letras de que precisam apenas no universo das fornecidas, o que leva a usarem um menor repertório de possibilidades de letras para escrever as respostas (que sabem de cor).

Isso é particularmente importante para os que não levam em conta com muita firmeza o valor sonoro das letras ao montar suas escritas silábicas. Para esses é melhor dar um envelope por vez, o desafio pode ser grande.

Para os que consideram o valor sonoro das letras ou de algumas delas, pensar nos agrupamentos é bem interessante, pois, ao tentarem montar cada resposta em duplas, se essas duplas forem bem pensadas ao se planejar a atividade, as hipóteses de escrita de um e de outro aluno podem render discussões interessantes.

Por exemplo, se a resposta da adivinha é PIPOCA e fulano acha que começa com P e beltrano que começa com I, com boas intervenções para que cada um justifique sua hipótese, pode-se chegar à conclusão de que a sílaba PI tem duas letras, P e I, e não apenas uma, P ou I. Assim, POA ou IOA, para a palavra "pipoca" pode se tornar para eles insuficiente. Como o fato de a sílaba PI ter duas letras entra em choque com a hipótese geral de que para cada sílaba têm-se uma letra, muita discussão interessante pode surgir.

A depender do trabalho das duplas e do nível das hipóteses silábicas em questão, o professor pode desafiá-las a inserir as outras letras do envelope em suas palavras. Assim, no envelope da adivinha cuja resposta é PIPOCA, tem-se 6 letras, se usaram POA ou PIOA, onde caberia colocar o outro P e o C que sobram? Cabe? Deixar que reflitam, ver até onde vão, o que argumentam, mas não forçar que cheguem a uma resposta convencional. Já são, só nisso, muitas descobertas, pontos de conflito cognitivo, fumacinhas, coisas para pensar...

Para uma turma em que grande parte pensa sob um sistema silábico de escrita, pode ser interessante começar com adivinhas cujas respostas apresentem sílabas canônicas, padrão CV (consoante-vogal), como PIPOCA, BURACO, para favorecer a reflexão sobre os sons presentes das sílabas, nesse tipo de atividade. Mas nada impede que os desafios se apresentem, como o que fazer com o H que sobrar na palavra BARALO (baralho)? Não é interessante reforçar a ideia, que podem cultivar, de que as sílabas são sempre no padrão CV.

É bom ressaltar que para fazer essa atividade, poderiam ser usadas letras móveis normais, para responder a adivinhas orais, mas o material estruturado tal qual apresentado aqui com esse kit permite que, ao montar as respostas, o aluno possa controlar sua própria produção, pois as letras da palavra que responde às adivinhas já estão dadas de antemão.

Para crianças já mais avançadas em relação à compreensão do funcionamento alfabético, uma sugestão é fazer o kit com adivinhas que elas ainda não conheçam, que não saibam as respostas oralmente, então, com o repertório de letras dados no envelope, precisam pensar que palavra pode ser montada. Ela vai controlando tanto as letras quanto o sentido do texto, para tentar achar a resposta. É muito interessante. É como nós, leitores proficiente, fazemos. Outra proposta é, para essas crianças, dar as letras móveis de todo o kit embaralhadas, assim, o repertório de letras para montar cada palavra não está dado de antemão, e ela terá que buscar as que precisa para escrever as palavras. 

Percebem que, mesmo sendo um material que desafia enormemente os que estão na fase de se apropriar do funcionamento alfabético do sistema, pode também ser adaptado tanto para os que ainda não estão nessa fase e os que já compreenderam o princípio alfabético? 

Nunca é muito lembrar que antes de qualquer exploração das adivinhas por escrito - como de qualquer outro texto da tradição oral - seja com o material, seja em atividades na folha ou no quadro, é preciso uma rica exploração oral, brincando, memorizando, dizendo e, no caso das adivinhas, desafiando os outros, adivinhando... Se não, não faz sentido algum, já que o valor desses textos e sua circulação relacionam-se a sua natureza oral. Trabalhar a oralidade é estar na linguagem, enriquecê-la, criar repertório, formar-se sujeito. Inclusive sujeito leitor e que escreve... Lembrem-se sempre disso!
Bom, gente, por hoje é isso.
Lica